O Degustador

by 11/21/2011 0 comentários
Hoje vou contar a história da mais pacata das cidades, onde absolutamente nada fugia da rotina, até o dia em que ninguém mais soube o significado de rotina. 

E começa assim... 

Elias, melancólico seguia para o trabalho. No caminho, como sempre fazia olhou para a velha fábrica a fim de relembrar seus tempos de glória, porém neste dia tomou um susto, nada teve para relembrar, a velha fábrica não era mais velha. “O que aconteceu aqui?” Pensou ele. A Fábrica estava novinha em folha, apesar de não ser possível tal transformação da noite para o dia. 

A velha fábrica de água fechou assim que a fonte secou. A cidade rica e moderna voltou a ser pobre e decadente, a renovada fábrica trouxe esperanças. Milhares de jovens se candidataram as inúmeras vagas de trabalho, ninguém mais questionou seu ressurgimento tão repentino e ignoraram o fato da fonte ter permanecido do mesmo jeito, seca. 

Elias também se candidatou e foi contratado, seu cargo - Degustador de água. 

Dia a após dia, a pacata cidade foi sendo tomava novamente pelo fervor, a água regou e fez crescer na cidade o antigo agito. Agora tudo saia da rotina, ninguém mais repetia o mesmo caminho, o mesmo assunto, a mesma roupa, a mesma alimentação ou o mesmo namorado, tudo novo todo dia. Um dia, a caminho do trabalho, Elias olhou para fábrica e teve uma visão que não compreendeu, a imagem da velha fonte seca sobrepôs seu olhar. Ele, ignorando seus instintos, entrou na fábrica e trabalhou o dia todo sem qualquer preocupação.

Ao voltar para casa teve a mesma estranha visão, como nada mais se repetia ele desta vez desconfiou da visão, “O que essa fonte seca significa?” pensou ele enquanto se deitava. Elias pegou no sono tão rápido que não deu tempo nem de raciocinar. Tolos são aqueles que imaginam dominar a mente. Durante o sono, o inconsciente de Elias respondeu tal questão em segundos. Com a sensação de estar caindo, Elias acordou e desesperado correu para o espelho. 

No porão, com pouca luz não conseguiu ver seu reflexo, apenas uma sombra alaranjada. Levou o espelho para a sala e a claridade arrancou a mentira, Elias viu o que olho nenhum está preparado para ver, seus cabelos haviam caído, seus olhos estavam três vezes maiores que tamanho natural, a cor da sua pele, que antes era negra, agora estava alaranjada, não havia um só pêlo em seu corpo, suas orelhas estavam grudadas na cabeça, como não notou a transformação? Fechou com força o olhar na esperança de tudo ser ilusão, mas nada se modificou Elias não era mais Elias. 

Sem saber o que fazer, colocou o espelho no chão sentou no sofá e levou as mãos à cabeça. “Não pode ser verdade, o que aconteceu?” Desta vez consciente, ele teve um flash back, lembrou da velha fábrica, da fonte seca, da renovada fábrica e da ainda fonte seca, sem hesitar ligou os pontos - A água da fábrica não vinha da fonte, seus contratantes não eram quem diziam ser, a pacata cidade estava totalmente dominava, ninguém era mais alguém, todos estavam desfigurados, transformados. O que fez minha cidade sucumbir à tamanha escuridão?


SSMartinelli

S²FM

Pela janela olhei, tulipas não encontrei. Pensei, Filosofei, Bloguei.